Aqui, Branco Entra, Negro Sai – O Paradoxo da Universalidade
- Thaís e Elma
- 28 de jan.
- 3 min de leitura
Introdução:Os direitos humanos são frequentemente proclamados como universais, uma conquista destinada a proteger a dignidade de todos os seres humanos. Mas será que realmente são? Quando revisitamos sua história, percebemos que, desde sua criação, esses direitos não se aplicaram a todos. Ao contrário, foram utilizados para reforçar hierarquias raciais e econômicas.
Neste texto, mergulharemos no paradoxo da universalidade dos direitos humanos e veremos como ele excluiu deliberadamente corpos negros e colonizados. Também exploraremos um marco importante que desafiou essa lógica: a Revolução Haitiana.
O Paradoxo da Universalidade
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, promulgada pela França em 1789, é um dos documentos mais celebrados da história dos direitos humanos. Ela afirmava que todos os homens nasciam e permaneciam livres e iguais em direitos. No entanto, essa "universalidade" não incluía as colônias francesas, onde milhões de negros eram escravizados.
Esse paradoxo não era um descuido. Ele fazia parte de um sistema deliberado. Os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade estavam intrinsecamente ligados aos interesses econômicos da elite europeia. Os corpos negros, reduzidos a meras propriedades, eram a base da riqueza colonial. Assim, os direitos proclamados para "todos" nunca foram realmente universais, mas sim restritos a um grupo seleto de homens brancos, proprietários e europeus.
A Revolução Haitiana: Uma Resposta ao Paradoxo
Enquanto a França celebrava sua revolução, algo ainda mais radical estava acontecendo em uma de suas colônias: a Revolução Haitiana. Em 1791, negros escravizados em São Domingos (atual Haiti) iniciaram uma luta pela liberdade, liderada por figuras como Toussaint Louverture e Jean-Jacques Dessalines.
A Revolução Haitiana não foi apenas uma luta contra a escravidão. Foi uma luta contra o próprio conceito eurocêntrico de humanidade, que negava aos negros o status de seres humanos plenos. Esse movimento culminou na independência do Haiti em 1804, tornando-o a primeira nação negra independente do mundo e o primeiro país das Américas a abolir a escravidão.

A Reação Global à Revolução Haitiana
Embora a Revolução Haitiana tenha sido um marco na luta pelos direitos humanos, ela não foi recebida com celebração. Os mesmos países que exaltavam a Revolução Francesa e seus ideais de liberdade e igualdade viram o Haiti como uma ameaça.
Os líderes mundiais temiam que o exemplo haitiano inspirasse outros povos negros a lutar por sua liberdade. Por isso, impuseram sanções econômicas ao Haiti e se recusaram a reconhecê-lo como um estado soberano. Até hoje, o Haiti paga o preço por sua ousadia em desafiar o sistema colonial e racial global.
Racismo e Exclusão no Conceito de Universalidade
A exclusão de pessoas negras dos direitos humanos foi sustentada por discursos racistas de filósofos e cientistas da época. Hegel, por exemplo, descrevia os africanos como "sem história", negando-lhes qualquer participação no progresso humano. Essa narrativa justificava a desumanização e a exploração de povos negros, colocando-os fora do escopo dos direitos humanos.
Além disso, o racismo científico, que ganhou força no século XIX, reforçou essas ideias. Pseudo-teorias sobre a inferioridade racial foram usadas para validar a exclusão de corpos negros da categoria de "humanos plenos". Essa lógica sustentava o colonialismo e a escravidão, ao mesmo tempo em que os direitos humanos eram proclamados como um avanço da civilização.
Conclusão:O paradoxo da universalidade dos direitos humanos nos lembra que, desde sua origem, esses direitos foram moldados para servir a interesses coloniais e racistas. No entanto, movimentos como a Revolução Haitiana nos mostram que é possível resistir e transformar.
Ao questionar o conceito de universalidade, temos a oportunidade de ressignificar os direitos humanos e construir uma nova visão, que valorize a diversidade de experiências e respeite a humanidade de todos os povos.
Gostou deste texto? Acompanhe o próximo post do blog para entender como a lógica de desumanização ainda persiste no mundo contemporâneo e como podemos enfrentá-la.




Comentários